Destralhe de Confinamento

O confinamento obrigou-me a trabalhar mesmo muito. Migrar para o teletrabalho de repente foi, digamos, intenso. Preparar material, dar aulas, pôr a família e os amigos a mexer-se em aulas de yoga via Zoom ou Meet, fora o que afinal também pode ser feito à distância em termos terapêuticos e organizacionais e que nunca tinha equacionado, foi toda uma curva de aprendizagem para usar um termo técnico.

No meio disso, meti mãos à obra na organização da minha casa. Sou uma pessoa organizada mas com quase 50 anos a acumulação é inevitável. Depois de roupa, passei para a parte mais aborrecida e difícil para mim que é a documentação: papelada como manuais de instruções de electrodomésticos que já ‘morreram’ e que foram para o lixo; digitalizei artigos e livros científicos que estavam em fotocópias e que agora até estão mais acessíveis numa pasta no computador podendo ter uma nova utilização; verifiquei que disponho de edições melhoradas de livros que já tinha e que por estarem em duplicado posso doar; manuais escolares que podem também ser doados a bibliotecas escolares; livros que não me interessam de todo mas que podem ser úteis a colegas ou amigos; maquetes que o meu filho já não quer e coisas que podem mesmo ir para o lixo têm sido uma constante nos últimos dias.

Francamente, estou surpreendida porque costumo fazer uma revisão de coisas pelo menos uma vez por ano, mas agora o ímpeto foi mesmo outro e fiquei espantada com o espaço que ganhei e com a quantidade de coisas que apesar de tudo tenho e de que não preciso ou que podem mesmo se úteis a outrém.

Isso obrigou-me ainda a redistribuir toda a documentação e os livros nas estantes, conquistando uma nova paisagem em casa sem ter mudado qualquer móvel, o que é uma experiência interessante e estimulante para o cérebro.

Experimente destralhar um pouco e verá que há sempre qualquer coisa que está a pesar na sua vida. E nós, do que precisamos, é de leveza.

Deixe um comentário